Ribamar Bernardes

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carícia no mar

carícia no mar

 

 

eu vi a noite cair no mar

eu vi o crepúsculo se deitar

as impurezas do vício

de nascimento  de ofício

nas impurezas do início

com barba pouca 

e inquietude muita

atitude de quem sente o suor escorrer pelas orelhas

diante de algo que considera importante

um instante a decidir uma vida

(essas gotas de suor não param de deslisar corpo

abaixo)

é ataque no nervo do primeiro dia

destruindo a parede que o separava dos adultos

sanguentos adultos

a matar porcos e galinhas

medo de virar adulto

astuto

com medalha de ouro no peito cravejado de

brilhantes

e de diamante já foi o olhar teu

assim como tua língua era pura carícia

não exitava em sacrificar meus deuses

por tuas delícias

estava pronto ao gozo celeste

que me levaria até ao deus enfermo

de ver tanta tristesa em seu doce mundo

um mundo absurdo

a fazer murchar os caminhos que o perseguem

um mundo que apaga o brilho da noite ao cair no mar

um mundo que não vê o crepúscuçlo se deitar

ao redor de um vale solitários pescadores mantém o

ritual

nada mal para este inválido mundo amoral

estamos perdidos e caídos em trevas

mas o noticiário das sete diz que tudo é normal

invadimos marte

e em qualquer parte penetramos nossa melancolia no

universo

eu fico no meu recanto  medindo o verso

fabricando o poema

não falem comigo enquanto estiver fabricando meu

poema

ele tem problema  não gosta de contatos  asperezas

mas vê beleza no mangue

em que estamos paralizados  calados

mortos com beleza nos olhos  mortos falantes

com muitas histórias na ponta da língua já roxa e

necrosada

somos seres mortos

habitando um vale vivo  vale das lágrimas eternas

 dos santos enforcados

lágrimas nas casas incendiadas por motivo de espada

e nada do que eu digo  aqui do meu recanto  faz

sentido

também busco abrigo

longe de mim

eu sou assim