dor amarela
olho tua foto retorcida num papel amarelo
lá fora brilha um sol contente e também amarelo
minhas lágrimas não minha lágrima é prata
um prata celeste
prata de dia nublado e triste
dia das dores imaculadas
que atingem as pessoas caladas de nossa insana
cidade
e não há maldade no que eu digo através de minha
boca sacrossanta (sou ser repleto de nostalgia)
molho o cobertor ao ver tua foto
nosso amor era sério
as árvores se curvavam em reverência
a deusa e a eloquência falava por nós
as vezes nossos silêncios duravam séculos
era um silêncio bom
de quem já disse tudo
esta satisfeito
não há jeito
em toda a relação há um bom defeito
o sangue jorra de alguma ferida mal curada
e o que sobra é o nada
do nada fizemos jaula de proteção
fugimos da aula e enganamos o cão
passamos a desviar o olhar desesperado um do outro
e o que resta é a promessa de cumprirmos a
promessa
assim as flores de minha floresta ficam tristes
o vento canta a cantiga melancólica
a natureza inteira torna-se bucólica
os colibris beijam as donzelas com desconfiança
e a tarde gris
olha com olhos de ressaca
toda essa dança
embalada por sono de criança
inebriada pelos vapores cálidos do útero da terra
vai em desespero ao encontro do seu erro
vai poeta
eu não vou prefiro minhas paredes amarelas
minhas musas poéticas
aqui tenho tudo posso chorar a vontade
minha eterna calamidade
minha eterna falta de vontade
sou tímido e fraco
como o sol das seis