embriagados vales
sou lâmpada apagada
mas ainda quente
fervo na hora exata
na hora absurda
na hora em que a maré
abondona um corpo na praia
na hora de matar
a golpes de martelo
o céu amarelo das
casas entupidas de
um vazio tedioso
este poema é esquecimento
é fome de esclarecimento
é fome por um mero aumento
no diâmetro das portas
que cercam a manhã tímida
é fome...
é hora...
é hora da fome pelo verso
infecto triunfar nas ruas
decadentes de nossas cidade
esquecida
eu estou pronto
sempre lutarei pelo meu belo vale
mesmo que espinhos sejam a recompensa
a luta compensa a doença
ó vestimentas lacradas
lanças e trovões
a guerra foi riscada
no chão dos dias
é tempestade
no ar da envelhecida
união
ó estejamos prontos
como ferro na forja
e beberemos da boa vodka
derrubaremos a corja
ó sempre ganhamos
o agrado da musa
sou a lâmpada a ferver
aos duzentos graus celsius
do puro pavor
ó fome
ó hora
sempre encheremos
de brisa celeste
este quarto agreste
o quarto nefasto
o quarto minguante
o quanto antes...
o quanto antes melhor
melhor sair deste quarto
vestir-se
como asno em pele de leão
contar histórias bêbadas
aos bêbados da rua
ó bêbados sua languidez
lembra o mormaço daquelas tardes
ardentes nas quais embaraço fazia parte
do clima melancólico de nossa sombria terra
ó terra do iguaçú
terra das águas
das cachoeiras
das moças bonitas
em seu suave desfile
terra da fome
a fome que corrói o verme
que corrói a carne
que corrói a alma
que corrói a vontade
que corrói o olho e a verdade
nossa terra
nosso canto
ó vida funesta
porque me fizeste tão infeliz
em plagas onde reina
a quietude
e a serenidade
o culto à boa idade
a beleza dos dias
passeando tranquilos junto ao rio...
ó fome da hora absurda
quero ser o pico da colina mais alta
quero ser estátua de gesso
eu mereço
quero mais da vida
ainda estou quente
quero ver tudo lá do alto
esta imensidão irônica
a comover meus olhos
olhos de fome
fome da noite