Ribamar Bernardes

final de setembro

final de setembro

 

 

da tristeza 

brotou a lágrima

da lágrima a dor

e o pavor diante das baratas voadoras persiste

insiste em divertir as crianças

lembranças

de quando o sonho estava próximo

quando chernobyl não existia

eu não resistia

brincava de mangueira no tépido janeiro

é lógico  a lágrima é metáfora  tormento

seria eu mesmo um jumento?

encasquetando minhocas no cerebelo

enrolando cabelos nos testículos

se é apenas isso

uma viagem  um padre  um crucifíxo

sem saber o porquê nem aonde

é um passo na corda bamba

no escuro

a trezentos quilômetros por hora

a fórmula um da linguagem

o estacionamento  a garagem

repouso do guerreiro

de corpo inteiro

na via cor-de-rosa

nos mosteiros de paris

e o olor do chocolate nos lembra

uma tarde gris