deus
a allen ginsberg
aqui começa nova vida
menos sofrida
mais entorpecida
mais enrraivecida
menos cabisbaixa
vê como tudo se encaixa nesta nova senda
acende um cigarro
comemore
quem dorme perde a madrugada
eu não
escrevo com carvão na calçada
meu nome codinome e sobrenome
sobre os ícones do passado
ou restos do nosso império
ou restos de nossa comida apodrecida
este poema é sério
é conversa íntima com deus
meus dentes estão negros de nicotina
minha barba imunda
meu cabelo afunda
no mar do esquecimento hippie
levanto antes dormir
pois tenho de ir
à casa dos fantasmas paranóicos
para com meu gesto heróico
os livre do pânico da morte
ó deus diga-me a verdade
aqui no meio desta maldita calamidade
no centro da cidade
no centro de toda a maldade...
carrego o verde em meus bolsos furados
para mim não há mais pecado
carrego também o falerno
visto meu velho terno
sigo até o penhasco e desafio a sorte
gostaria de fazer um poema simples
como os de mario quintana
mas não posso
a menina é profana
gosta do gosto da embriaguês
talves por pura catatonia
talvez por pura hipomania
talvez tenha esquecido de tomar seu haldol
talvez simplesmente esteja carente
e não gosta do sol
não sei
essa menina não é minha
vive no meu sonho
na minha quimera
no meu luxo de primavera
no meu poema que não existe
vê se não insiste
eu sei é tudo devaneio
estou perdido bem no meio
de tudo à espera do caminho
a me guiar para o absurdo
não sei porque faço o que faço
contemplo o iguaçú e me embaraço
logo o dia vai nascer
também me embaraço
deus ? onde esta você ?
já que você não me vê
vou com meu atomóvel verde
e uma caixa de cerveja
buscar meu amigo poeta
juntos beberemos em alta velocidade
e veja:
quando a cerveja acabar
beberemos o falerno
que ia levar para aquela menina
ela não existe
o que existe é a tecla doente e triste
da minha máquina de escrever
elaborando sonhos doces e suculentos
às cinco horas da manhã
celebrando a vida amarga e barata
às cinco horas da manhã
matando a traça que me rasga
às cinco horas da manhã
entregando moedas a quem não me paga
às cinco horas da manhã
bebendo o sangue das putas
às cinco horas da manhã
da manhã
de amanhã
de todos os dias
como dejetos jogados da pia
ressuscitando no lodo dos esgotos
vai acenda um cigarro assim mesmo
mesmo estando com os cotovelos rotos
acende acende o cigarro
depois deita o escarro
na porta das casas santas
depois muito bêbado
canta a cantiga antiga
dos que não dormem
dos que escrevem poemas
às cinco horas da manhã