Ribamar Bernardes

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livrai-nos

livrai-nos

 

 

livrai-nos senhor     da desgraçada da ignorância

livrai-nos senhor     do temor de um deus sonolento

livrai-nos senhor     das mazelas que a última chuva

deixou

livrai-nos do sono anêmico das prostitútas do cais

livrai-nos dos viciados que sempre querem mais

livrai-nos senhor

 

livrai-nos senhor

livrai-nos do fogo da verdade(porque a verdade mata

aos poucos)

ela não existe(morreu aos poucos no meio do

alvoroço)

livrai-nos senhor

livrai-nos dessas pernas pontiagudas

cheias de desejos mórbidos

livrai-nos senhor     dessas feras

desses seres ferozes e ressentidos(esses seres saltam

lágrimas de fogo quando realmente são tocadas pelo

vento)

 

protege nossa carapaça

cansada

meu bom senhor

a tortura de viver

é tanta que vem desânimo

mas a gente levanta

meu bom senhor

todo o dia

com redobrado ânimo

de ver o azul do céu

e o amarelo do sol

que o senhor fez para nós

isso sem falar

no verde do gramado

e no branco da nuvem

mas 

livrai-nos senhor

da idiotice e da peste

livrai-nos dos demônios da meninice  da falta de prece

livrai-nos dos casamentos enfermos

livrai das tristezas encalacradas no coração

livrai-nos senhor

de um dia esquecer que somos gente(e virarmos

apenas um cão)