livrai-nos
livrai-nos senhor da desgraçada da ignorância
livrai-nos senhor do temor de um deus sonolento
livrai-nos senhor das mazelas que a última chuva
deixou
livrai-nos do sono anêmico das prostitútas do cais
livrai-nos dos viciados que sempre querem mais
livrai-nos senhor
livrai-nos senhor
livrai-nos do fogo da verdade(porque a verdade mata
aos poucos)
ela não existe(morreu aos poucos no meio do
alvoroço)
livrai-nos senhor
livrai-nos dessas pernas pontiagudas
cheias de desejos mórbidos
livrai-nos senhor dessas feras
desses seres ferozes e ressentidos(esses seres saltam
lágrimas de fogo quando realmente são tocadas pelo
vento)
protege nossa carapaça
cansada
meu bom senhor
a tortura de viver
é tanta que vem desânimo
mas a gente levanta
meu bom senhor
todo o dia
com redobrado ânimo
de ver o azul do céu
e o amarelo do sol
que o senhor fez para nós
isso sem falar
no verde do gramado
e no branco da nuvem
mas
livrai-nos senhor
da idiotice e da peste
livrai-nos dos demônios da meninice da falta de prece
livrai-nos dos casamentos enfermos
livrai das tristezas encalacradas no coração
livrai-nos senhor
de um dia esquecer que somos gente(e virarmos
apenas um cão)