não e não
não escrevo porque quero
escrevo por impúlso
meu pulso esbraveja de medo
e veja: não bebo mais cerveja
acordo cedo e namoro a alvorada
são instantes em que não quero mais nada
talvez não
na dúvida umideço meu olhar
um choro de alegria
por ter sido forte
não ter aceito a covardia
me escondi na letargia das aves bêbadas
como montanha
resisti
por noventa e nove meses
e o que me comove
foram as vezes
que sofri quieto
produzindo meu doce
manifesto
daqui das profundezas
do meu
desvairio
não me alimento mais de desgraça
o que passa passa
o que fica martiriza
agoniza nos fundos escuros
do pescoço lívido
trêmulo de dores
naveguei pelos horrores
encontrei novos amores
e
a sangria
tem recomeçado...
vago pela chuva rala
acompanhado por insetos tímidos
declamando elegias
aos ouvidos cortados do século
esculpindo caminhos
para os devalidos do século
o século está doente
meu impulso diz que tudo está por um triz
são tardes grís
a sufocar
o calor do sábado
do sábado teimoso e ocioso
cheio de poemas insanos num país suburbano
cheio de pus e cólera
num país onde as migalhas são assassinadas
por homens de terno
mas trago meu falerno
e bebo num gole
como se fosse inseticida
como se afinal de contas
a vida não fosse boa
como acriditar que o poema não voa