Ribamar Bernardes

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o dia em em que o poeta quis ir embora

o dia em em que o poeta quis ir embora

 

 

deus estava com raiva

no dia da criação

no dia em que criou adão

era o primeiro dia da festa

e deus já estava lasso

sentiu o pânico na testa

e correu para o mato com suas

pernas zombeteiras

ó deus me perdoe as brincadeiras

ó deus me abandone no meio do asfalto

ó deus

teste as minhas crenças

que são vistas como doença

insípida como bala de hortelã

em boca de anciã

anciã é minha vida

carcomida pelos vermes dos vales psicotrópicos

é urgente

preciso fazer mil versos

para salvar minha mente

do inferno total

quando o sonrisal não ferve

onde tudo o que eu fiz  fiz mal

onde não passa minha febre

onde não passo de vegetal

por isso o desespero  medo

sangria animal  histeria feminina

tudo arrebentando os gânglios da

garganta a céu aberto

meu berro não encomoda ninguém por perto

é de longo alcance

quanto mais distante teu ouvido está

mais perto minha letra estará

é abraço tímido

mas a desgraça é verdadeira

a minha já dura semanas e semanas

semanas inteiras

desede que arrancaram minhas unhas

pensando que eu era de aço

mas não  ferveu meu sangue e 

amorteceu minha verve

agora somente febre

e dor na jugular

mesmo estando em meu lar

na pátria dos pinheiros tristes

ao som da cantiga do alvorescer

música para todos os sentidos

cumprimento festivo

do planeta com o chão

enquanto uiva o cão

minha mão se despede

pede  exclama  clama

piedade aos que não

tem coragem e que esta

minha viagem rumo

à raiz de nossa pátria

estenda os braços

e lhes convide a desfrutar

da orgia da chegada

e do medo da despedida

ó deus o que fiseste da minha vida

ó deus estou perdido no meio do iguaçú e nada me

encanta

ó deus me perdoe as minhas brincadeiras de

minhas pernas zombeteiras

ó deus eu queria que me derrubasse no asfalto

e testasse minhas crenças

mas assim é demais

o sangue profano está a engolir minhas narinas

está próximo a meia noite

meus nervos fervem após a partida

está próximo a meia noite

morre no desfiladeiro minha alegria querida

está próximo a meia noite

o sopro do luar bate como um coice

esta próximo a meia noite

preciso fazer mil versos para escapar deste mal

preciso fazer mil  mil versos

para escapar da fuga não planejada

minhas mãos tremem

não querem dizer adeus no precioso vale

é necessário dar meia volta

e ficar enfiado no pântano dos sonhos

é necessário gostar desse lodo

onde surgem as mais belas flores do crepúsculo

onde surgem os devaneios do poeta

depois  apagar a lâmpada e dormir até as dez

horas da manha

para depois tomar chá de hortelã

depois lucky strike ou marlboro

um pedaço de mamão

e pronto

estou novamente são

nesta minha vida de ancião