o dia em em que o poeta quis ir embora
deus estava com raiva
no dia da criação
no dia em que criou adão
era o primeiro dia da festa
e deus já estava lasso
sentiu o pânico na testa
e correu para o mato com suas
pernas zombeteiras
ó deus me perdoe as brincadeiras
ó deus me abandone no meio do asfalto
ó deus
teste as minhas crenças
que são vistas como doença
insípida como bala de hortelã
em boca de anciã
anciã é minha vida
carcomida pelos vermes dos vales psicotrópicos
é urgente
preciso fazer mil versos
para salvar minha mente
do inferno total
quando o sonrisal não ferve
onde tudo o que eu fiz fiz mal
onde não passa minha febre
onde não passo de vegetal
por isso o desespero medo
sangria animal histeria feminina
tudo arrebentando os gânglios da
garganta a céu aberto
meu berro não encomoda ninguém por perto
é de longo alcance
quanto mais distante teu ouvido está
mais perto minha letra estará
é abraço tímido
mas a desgraça é verdadeira
a minha já dura semanas e semanas
semanas inteiras
desede que arrancaram minhas unhas
pensando que eu era de aço
mas não ferveu meu sangue e
amorteceu minha verve
agora somente febre
e dor na jugular
mesmo estando em meu lar
na pátria dos pinheiros tristes
ao som da cantiga do alvorescer
música para todos os sentidos
cumprimento festivo
do planeta com o chão
enquanto uiva o cão
minha mão se despede
pede exclama clama
piedade aos que não
tem coragem e que esta
minha viagem rumo
à raiz de nossa pátria
estenda os braços
e lhes convide a desfrutar
da orgia da chegada
e do medo da despedida
ó deus o que fiseste da minha vida
ó deus estou perdido no meio do iguaçú e nada me
encanta
ó deus me perdoe as minhas brincadeiras de
minhas pernas zombeteiras
ó deus eu queria que me derrubasse no asfalto
e testasse minhas crenças
mas assim é demais
o sangue profano está a engolir minhas narinas
está próximo a meia noite
meus nervos fervem após a partida
está próximo a meia noite
morre no desfiladeiro minha alegria querida
está próximo a meia noite
o sopro do luar bate como um coice
esta próximo a meia noite
preciso fazer mil versos para escapar deste mal
preciso fazer mil mil versos
para escapar da fuga não planejada
minhas mãos tremem
não querem dizer adeus no precioso vale
é necessário dar meia volta
e ficar enfiado no pântano dos sonhos
é necessário gostar desse lodo
onde surgem as mais belas flores do crepúsculo
onde surgem os devaneios do poeta
depois apagar a lâmpada e dormir até as dez
horas da manha
para depois tomar chá de hortelã
depois lucky strike ou marlboro
um pedaço de mamão
e pronto
estou novamente são
nesta minha vida de ancião