Ribamar Bernardes

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poema

poema

 

 

no poema     não há pecado

no poema     não há nada errado

no poema     a beleza exige podridão

é necessária a coragem dos santos

a força de um cícero

um fogo nas ventas   um mar bravio de paixão

no poema tudo é pedaço de turbilhão

e eu no olho do furacão

ganhando esmolas de quem me deve

no poema toda a prova é falsa

toda a mentira é verdade

toda a vida em que é morta

no poema     tudo é ao inverso

a mulher ideal é a serena prostitúta

a mulher ideal tem que ser a mais puta

no poema o poeta esta sempre bêbado

como bêbadas são as ondas do mar

no poema vibram meninas de dezessete anos

e músicas estranhas

no poema cabe a náusea de estar vivo

que da terra será apenas um crivo

um dilema que passou

uma faca embriagada a decepar dedos

no poema vem saudade

vem lembrança da maldade que fizeram a você

tímido e lasso

descompassado e gasto

no poema cada criatura

principalmente as noturnas

se transformam em dor e atadura

em fome e comida

em tela e cor

cabe vida cheia de calos

feitos na estrada

na estrada enluarada