poema
no poema não há pecado
no poema não há nada errado
no poema a beleza exige podridão
é necessária a coragem dos santos
a força de um cícero
um fogo nas ventas um mar bravio de paixão
no poema tudo é pedaço de turbilhão
e eu no olho do furacão
ganhando esmolas de quem me deve
no poema toda a prova é falsa
toda a mentira é verdade
toda a vida em que é morta
no poema tudo é ao inverso
a mulher ideal é a serena prostitúta
a mulher ideal tem que ser a mais puta
no poema o poeta esta sempre bêbado
como bêbadas são as ondas do mar
no poema vibram meninas de dezessete anos
e músicas estranhas
no poema cabe a náusea de estar vivo
que da terra será apenas um crivo
um dilema que passou
uma faca embriagada a decepar dedos
no poema vem saudade
vem lembrança da maldade que fizeram a você
tímido e lasso
descompassado e gasto
no poema cada criatura
principalmente as noturnas
se transformam em dor e atadura
em fome e comida
em tela e cor
cabe vida cheia de calos
feitos na estrada
na estrada enluarada