Ribamar Bernardes

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sete vezes recorri ao abrigo dos santos

sete vezes recorri ao abrigo dos santos

 

 

Joana Corona (in memorian)

 

gritaram loucas na escuridão

minhas sete tentativas de suicídio

sete  ouviu doutora salete

sete espancamentos na cabeça

sete mordaças a sufocar o grito

sete poemas mortais na mente infecta

sete delírios no oceano dos dias

sete tormentos nos momentos de embriaguez

sete vezes expulso da quermesse

sete vezes expulso da escola

sete vezes expulso de bares bêbados

sete mortes encalacradas no pescoço

sete vezes brincando no vale da morte

sete dias que não formam uma semana

sete tristesas ao se despedir de joana

sete golpes na boca do estômago

sete noites inteiras lendo kafka

sete dias pela metade

estudando a áfrica

sete mantos negros a cobrir a escuridão do meu

sol flácido

sete dinamites coloquei na porta do palácio

sete diamantes roubei de minhas histéricas

amantes

sete centavos foi sempre o que eu tive no bolso

sete dúzias de cebolas comi nos dias frios

de nosso outono suculento

sete são os montes

que cercaram minha terra

sete são as estrelas como fios d′água critalina

estagnada na noite cintilante

sete foram minhas namoradas em tenra idade

sete vezes mil é a idade da minha cidade

sete vezes disse tolstói

se queres falar do universal cante sobre sua

aldeia

sete milhões de vezes pensei sobre isso

sete semanas resolvi o enigma

sete cantos para os sete cantos de nosso

condado

assim me acabo

assim tudo desaparece

assim nada cresce

como prece enviada ao demônio

na vastidão do joio a matar o trigo

assim arrefece

o ânimo do humor mecânico

no grito estridente da máquina moribunda

assim esquece

o dilúvio das lágrimas tristes da semana

passada

sete são as formas de se ler este poema

sete são meus dentes cariados

sete torturas no coração é o que carrego

sete dilemas percorrem minha cabeça

(enquanto fogo aquece

enquanto o lambarí é frito

enquanto a cachaça corre

de mão em mão

enquanto minha vida corre para o sentido

inverso do rio)

sete foram as mortalhas

sete foram as camisas de força

sete vezes sete mil pareceu o tempo da

internação

sete sementes que plantei

entraram em catatonia

sete agonias por segundo

perpassavam

seus dilacerados ossos

sete alegrias ao ver o poema pronto

sete mentiras proferi em frente ao templo

sete denúncias por excesso de vaidade

sete ouviu doutora salete

tudo foi sete

e para que serve a coincidência

senão para empregnar de medo

os dentes já carentes

de atenção

neste mundo tão frio...