súbito impulso
me aproprio dos antigos remotos anfíbios
mestres (estou com frio e estou prestes a cometer desvario)
como atirar-se lentamente no meio do rio
foram mestres
ou doutores da lei literária
morta e caduca
que me colocaram a faca na nuca
somente pânico jorra dos livros que leio
creio que nossa vida anda meio esquecida
por um deus que nunca disse a que veio
será crise cristã aos trinta e três?
continuo sem saber em que mês dia ano solar ou lunar
estou
e o resto de mim
voôu
para o deserto cômico da colina
onde as gralhas desfilam risadas mórbidas
a invadir minha rima
invadir meu último centavo de agonia
matéria prima de minha poesia
a invadir os jornais de segunda
com suas mortes endiabradas
manchando de sangue meus poemas
jogados pela calçada
a invadir meu teto enlameado
pelo pus sagrado
brotando de meus pulsos cortados
é preciso mais ironia
é preciso acabar com essa gritaria
é preciso mais sarcasmo
é preciso espantar o marasmo
dos nossos domingos sossegados
regados a maionese e costela
matamos bois e galinhas
não devemos nos sentir culpados
é simples apropriação
do que é seu não por direito oblícuo
mas por guerra mútua
assim encaro marx rimbaud vinicios bukowski
não sei mais quem
encaro e escarro
nestas faces carcomidas pelas paredes
angustiadas em que viveram
estão mortos
ocioso pasto para vacas sonolentas
belos bustos nas praças violentas
leituras vazias em salas de aula também vazias
tudo isso me dá azia
tomo um sonrisal
e vou dormir